SÍMBOLO QUE REPRESENTA O PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA. |
"Com a
convivência diária com sua parceira e observando o comportamento dos animais ao
seu redor, o cabeça chata teve a certeza de que os animais estavam se
multiplicando e para que isso acontecesse sempre faziam um ato de união
introduzindo um pequeno membro do corpo do macho na parte inferior da fêmea, e
aquilo não era um ato que acontecia com um único tipo de animal e sim com
vários, desde os porcos do mato (catetos), veados, cotias, mocós... Etc.
Foi ai
que veio a curiosidade e o cabeça chata começou a descobrir o sexo e a sua
forma de reprodução, a partir do primeiro ato, ato este que lhe deu um prazer
inexplicavelmente bom, todos os dias aquilo era repetido e o tempo foi passando
e a sua parceira que vamos chamar de (zazá) começou a ficar barriguda igual aos
animais quando ia ter filhotes e o cabeça chata ficou na expectativa de nascer
um ser com sua semelhança, e após algum tempo nasce o seu primeiro filho e
depois foram nascendo vários filhos, e daí se tornaram na primeira família de
ser racional, só que seus filhos ao se tornarem independentes saiam por mata
adentro sem destino como se algo estivesse a sua espera, e em busca de novos
horizontes todos foram se desmembrando daquela família e se tornando em
caboclos do mato, e isso fez com que sua família se reduzisse em apenas o
cabeça chata a sua parceira zazá e o seu filho recém-nascido (zil).
Com a
fuga de seus filhos o cabeça chata começou a refletir sobre sua vida e sobre
tudo o já tinha lhe acontecido e chegou a conclusão de que aquela força
estranha tinha lhe dado a vida, varias formas de alimentação, a inteligência, a
família, o abrigo e talvez ela estava querendo algo em troca, só que de alguma
forma ela já estava cobrando esta troca,
pois ela já tinha levado quase todos os seus filhos para um lugar que ele nem
mesmo conhecia.
Num
dia depois de uma chuva aconteceu algo muito ruim para o cabeça chata, ele teve
a sua primeira perda de fato, quando chovia todos os insetos e animais
rastejantes saiam andando sobre a terra molhada e se tornavam numa comida fácil
para a família do cabeça chata, só que desta vez a sua parceira zazá ao pegar
um animal rastejante de tamanho médio, achando que tinha encontrado comida
farta, pegou o mesmo sem saber que o animal era peçonhento e levou uma picada
venenosa e começou a passar mal, rapidamente foi na direção da caverna e ao chegar
lá foi amamentar o pequeno zil, e ao fazer isso caiu morta sobre o bebê
matando-o também.
Ao
chegar à caverna o cabeça chata vendo aquela cena e seus entes queridos não
respondendo aos seus estímulos ficou desesperado por nunca ter lhe dado com
situação parecida, então ele saiu correndo para o portal para pedir um auxilio
para a força estranha.
Ao
chegar lá ficou olhando para o portal e nada acontecia nenhuma resposta ele
teve, ou aparentemente era o que parecia, mas ao voltar para a caverna avistou
um enorme besouro de cor preta e carapaça extremamente dura furando um buraco
no chão e enterrando algo que tinha um cheiro ruim, depois de ver aquela cena
ele seguiu para a caverna e chegando lá encontrou sua parceira e seu filho já
em decomposição, e eles já cheiravam mal e aquele cheiro era similar ao que ele
sentiu da coisa que o besouro enterrava, então ele decidiu que iria fazer a
mesma coisa que o besouro, pois se tudo que eles comiam vinha da terra, nada
mais justo que devolver para mesma.
Então
ele cavou um buraco no formato de um pote e no interior do mesmo revestiu de
lama (barro amolecido com água) em seguida deixou secar e só assim colocou zazá
e zil sentados e abraçados no recipiente e em seguida jogou terra e neste local
decidiu plantar um pé de cansanção (planta de folhas grandes, e cheias de
espinhos venenosos desde as folhas até o caule) talvez ele estivesse escolhido
este tipo de planta com a certeza de que animal nenhum iria encostar-se ao
túmulo de seus entes queridos, pelo fato dos espinhos protegerem.
E
aquela planta cultivada e cuidada com carinho lhe daria a localização exata de
onde eles foram enterrados, aquele túmulo seria uma forma dele não se sentir
sozinho, desde então toda vez que o cabeça chata estava triste ia visitar o túmulo,
pois nele estava duas pessoas que ele mais amava por que os outros filhos ele
também amava, só que ele não tinha certeza se os mesmos tinham sobrevivido sem
os seus conhecimentos adquiridos.
A
solidão e o tédio começaram a fazer o cabeça chata a refletir sobre a sua vida
e depois de muito tempo pensando chegou à conclusão de que também viria a
morrer, então nasceu dentro dele uma necessidade de registrar tudo que ele
aprendeu através da força estranha, porque se um dia alguém passasse por ali
saberia que naquele local existiu vida inteligente ou quem sabe um dia seus
filhos resolvessem a voltar, e se isso acontecesse eles encontrariam seus
registros e passariam aqueles conhecimentos para frente, ou talvez ele
estivesse apenas demarcando o seu território" continua...